10 de dezembro de 2010

ESTILISTA ELSA BARRETO NA PRIMEIRA PESSOA…

Foi no evento do Dia Mundial da Luta Contra a Sida, que Elsa Barreto me recebeu. Falámos da sua colaboração em causas solidárias, do seu trabalho e de moda nacional.

Um nome já consagrado no mundo da moda, Elsa Barreto é conhecida por vestir inúmeras celebridades para a passadeira vermelha e eventos. Contudo novos desafios se levantam, e a sua linha Prêt-a-Porter é um deles…

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A escadaria do Palácio da Artes foi o palco da sua nova colecção Primavera/Verão. Com a participação especial de Diana Pereira e Cláudia Jacques, passearam-se vestidos curtos e estruturados, longos e fluidos (já característicos da sua assinatura) que marcam a próxima estação “Elsa Barreto”. Adorei as texturas, o pormenor de costas decotadas, as aplicações com brilhos - em tom de jóia de uma exuberância discreta e requintada – vestidos assimétricos!… o prata, os pasteis, os rosas, os verdes lima!…tecidos acetinados e com brilho… Feminina e sofisticada! De certeza que a pensar na valorização da mulher!


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Desfile no Palácio das Artes, colecção Primavera/Verão 2011

O desfecho do desfile foi planeado e trabalhado a pensar no evento solidário! Um enquadramento perfeito com a causa e as cores que a definem, traduzido em glamourosos vestidos vermelhos (veja aqui ). 

“O último quadro foi exactamente a pensar no tema do evento de hoje, para ajudar uma causa tão importante como esta! (…) Eu gosto sinceramente, dentro das minhas possibilidades, de ajudar! E a melhor forma de ajudar é com o meu trabalho! E por isso esse foi o fecho a pensar na ABRAÇO.” (Elsa Barreto)

Toda a colecção é um convite irresistível a passar na loja de Braga, ou (desde Outubro) na Loja Prassa Mulher no Porto, onde nos podemos deliciar com todas as linhas da estilista: os vestidos compridos, a linha Cocktail, e sua nova linha de Prêt a Porter.

“…se de alguma forma com o meu trabalho puder chegar às pessoas, é fantástico!”


Helena Branquinho (HB)- Assistimos cada vez mais à colaboração das casa de moda, quer a nível nacional como internacional, com causas solidárias…

Elsa Barreto (EB) - Sim, cada vez mais! Neste momento estou também num evento em Lisboa em favor da Liga Portuguesa Contra a Sida com o laço (Elsa Barreto “vestiu” um dos vinte laços expostos no átrio da Estação do Rossio) não estou presente porque não posso estar em dois sítios ao mesmo tempo (risos)… E também ontem à noite em Braga foi feito um evento em favor das mulheres que sofrem abortos espontâneos, e eu doei um vestido para ser leiloado. Também não pude estar presente porque estava a trabalhar a acabar o desfile… mas… sempre que posso! Ainda há pouco tempo também fiz uma camisola para a violência contra as mulheres… 

 

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O laço criado por Elsa Barreto para o evento da Liga Portuguesa Contra a Sida

HB – Exacto, tem estado muito ligada a causas solidárias… qual a importância que tem para si participar, como pessoa e como estilista?

EB - Como pessoa, eu tenho cada vez mais a consciência de que nós nos devemos ajudar uns aos outros. Não há pessoas melhores nem piores… cada qual tem a sua forma de estar na vida e os seus trajectos pessoais, mas todos nós nos devemos ajudar! Eu sinto-me na obrigação de ajudar porque de alguma forma eu também preciso de ser ajudada… até com as pessoas que vêem a minha colecção: gostam da minha colecção, estão-me a ajudar! Por isso imagine em causas tão mais importantes como é ajudar vítimas… eu falo um bocadinho pelas mulheres, estou mais ligada a esses assuntos… Há tantas tragédias! Nós temos o dever de chamar a atenção! De dizer: não pode ser, reparem!  

HB – O seu trabalho é uma forma…
 
EB – É uma forma de chegar às pessoas! Porque o facto de fazermos isto, neste caso um desfile, as pessoas gostam de ver… as pessoas gostam de moda e vêm! E com isto levam um lacinho vermelho entre outras coisas… É uma forma de chegar ao público. O facto de leiloar ontem o vestido foi uma forma de chegar a essas mulheres e também de alertar que há de facto muitas mulheres a sofrer! Conheço algumas pessoas que já passaram por essas situações, e é muito complicado, mesmo! E como mãe compreendo… e muitas pessoas não fazem ideia do que é esse sofrimento. Portanto se de alguma forma com o meu trabalho puder chegar às pessoas, é fantástico!

HB - E o facto de grandes marcas aderirem a causas de solidariedade, acha que é uma consciencialização dessas marcas de que o mundo precisa deles, e podem contribuir com o seu nome?

EB - Nós estamos a acordar! Todos nós! A nossa consciência está a acordar de alguma forma, e a perceber que há muita coisa que não está certa. E nós estamos aqui para sermos felizes e não para termos problemas… e então as marcas que têm tanto poder… porque não ajudar?

HB – Aqui o factor crise terá tido algum peso para tocar um bocadinho na ferida, uma vez que muitas das marcas são destinados a mercados de luxo?… 

EB - Eu acho que tudo tem influência. O facto de estarmos a passar por uma crise tão grande - eu acho que na vida nada é por acaso - é para acordar! Realmente precisamos de voltar a ter outro tipo de energia, uma energia muito melhor uns para com os outros… nunca querermos o mal do nosso vizinho, para quê? Não ganhamos nada com isso! Acho que ninguém está especificamente a pensar “tenho que ajudar”! Acho que aos pouquinhos a nossa consciência está a acordar, e a crise, qui ça , e acho que sim, que nos ajuda a ver que somos muito pequeninos e temos que nos ajudar uns aos outros.

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Desfile no Palácio das Artes, colecção Primavera/Verão 2011

“…se eu gosto disto vou dar aos outros! Estou a dar um bocadinho de mim…”

HB - Falemos agora de si e do seu percurso profissional… Já confessou que se inspira em si própria… 

EB - (risos) Foram ver isso? (risos) Parece um bocadinho… Eu cresci dessa forma, sabe? Não é porque ache “uau sou o máximo, vou-me inspirar em mim”! Não, não é nada disso! Eu nunca pensei ser outra coisa que não esta que faço: ser estilista, criadora de moda, vestir pessoas, vestir-me a mim… E desde pequenina que sempre fiz as minhas coisas, as minhas roupas, transformei roupas… habituei-me a fazer esse exercício comigo! Por isso hoje esses vestidos que vocês usam, eu tenho que os vestir todos. Claro que nas proporções das manequins (eu não sou uma manequim nem é essa a minha intenção) mas tenho que olhar para os vestidos e conseguir dizer “eu vestia isto!”. Porque se eu visto aquilo, eu vou gostar de ver todas as mulheres com aquele vestido. É no bom sentido! É um bocado assim: se eu gosto disto vou dar aos outros! Estou a dar um bocadinho de mim… quero que a mulher (ou rapariga) que vá vestir esse vestido se sinta fantástica, como eu gosto de me sentir fantástica quando visto as minhas peças. É nesse sentido!

HB - Quem é então a mulher que veste Elsa Barreto? Como é que a define?

EB - Eu visto todo o tipo de mulheres! Nem mais novas, nem mais velhas – todo o tipo de mulheres! Têm é que ser femininas! Se não o forem não se identificam com o que eu desenho. Só, só isto! Podem ter 70 anos, 60, e serem femininas, elegantes, não no sentido de magra, mas ter glamour, ter… alma! Esse é o único ponto em comum que elas têm que ter!

HB - Veste várias celebridades para eventos, passadeira vermelha… sem querer menosprezar ninguém, nem ferir susceptibilidades, há alguma mulher portuguesa que represente para si um ícone de estilo e que gostasse de vestir mais vezes?

EB – Não. As que eu visto são as que eu gosto de vestir! Visto há muitos anos a Vanessa (Oliveira), gosto muito dela, ela identifica-se perfeitamente com os meus vestidos! Tudo o que visto nela fica bem! Visto a Cláudia fica bonita, visto a Diana Pereira fica bonita, a Claudia Borges, que foi mãe agora, e também gosto de a vestir… Não tenho nenhuma mulher portuguesa que diga: “ainda não vesti e adorada vestir”… conhece aquela máxima “só faz falta quem está”? Pronto, é isso! (risos)

HB - E a nível internacional?…

EB - Há muitas, sei lá… há muitas mulheres fantásticas que se as pudesse vestir tinha todo o gosto, mas não sei dizer só uma… Eu já algumas vezes disse que gostava muito de vestir a Madonna, mas não é só a Madonna! Gostava, porque gosto do trabalho dela! Mas não tenho uma… se puder vestir, óptimo (risos)…

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Desfile no Palácio das Artes, colecção Primavera/Verão 2011

HB – Fala-se cada vez mais da moda nacional, e na sua internacionalização… na sua opinião, qual o impulso que falta para que o progresso seja mais rápido, e para que se consuma mais moda portuguesa?

EB - Acho que é os portugueses acreditarem neles! Temos que nos dar valor, e nós não damos! Eu sinto que as pessoas só acham que estão fantásticas se tiverem marcas muito caras, estrangeiras… Claro que aos pouquinhos, mas aos pouquinhos, já se está a começar a dar valor aos estilistas, aos profissionais, já se começa a gostar de vestir uma ou outra peça, mas acho que precisávamos de nos valorizar muito mais.

HB – Sente mesmo que depende do público português?… 

EB – É… eu falo também por amigas minhas que se sentem fantásticas quando compram uma roupa muito cara, em Paris ou assim, mas… sem me querer achar o máximo, quando elas vestem alguma peça minha minha e vão a uma festa com esse vestido, sinceramente, elas ficam mais bonitas! E eu não sou a única a ver isso! Ficam porque se calhar eu desenho mais para as mulheres portuguesas… é só isso! Eu estou cá, tanto eu como outro criador… nós somos portugueses… 

HB - Temos uma identidade própria?…
 
EB - Exactamente! Tenho amigas minhas que às vezes vestem, por exemplo, um vestido Prada mas que não têm aquelas linhas fantásticas que evidenciam as formas femininas! Sem exageros, claro… E pagaram provavelmente um balúrdio por aquele vestido! E quando vão à loja, e se calhar quando vão a lojas de outros criadores também, eu falo por mim porque é o que eu vejo,  e vestem algumas peças ficam sem dúvida bonitas! Para mim é gratificante, é muito bom, e mesmo elas dizem assim: “ai, afinal eu fico bem!”… nós o que é que somos afinal? Somos criadores só que somos portugueses… Se calhar se eu tivesse esta marca em Paris, as clientes iam lá, pagavam um balúrdio e ficavam todas contentes! Porque não aqui?… 


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Desfile no Palácio das Artes, colecção Primavera/Verão 2011

HB - Ao longo dos seus vinte e quatro anos de carreira, quais foram os maiores obstáculos que enfrentou? Assim como provavelmente outros estilistas enfrentam… 

EB - É realmente o facto do público não apostar a 100% em nós, pelo menos 50% era bom! Porque se nós vendêssemos muito mais!… É este o nosso problema! Repare, eu tenho um atelier, faço lá as coisas… sempre que preciso mando fazer fora. Mas o facto de não fazer grandes quantidades, os nossos preços não podem ser tão acessíveis como outras marcas… E às vezes está aí a nossa dificuldade… Imagine, por mais que eu queira pôr uma marca Prêt-a-Porter - e por isso é que se calhar ando a pensar nesse processo há muito tempo, e só agora é que vou realmente começar a fazê-lo - para fazer uma marca Prêt-a-Porter é preciso preços, (senão ninguém vai comprar peças de dia a dia a preços exorbitantes), e para isso é preciso ter uma estrutura já “fortesinha” o suficiente para mandar fazer vários tamanhos, várias cores… para depois poder ter um preço competitivo… 

HB … a competitividade deve ser uma das grandes dificuldades, não? Quando temos grandes cadeias que nos apresentam roupas a preços acessíveis …

EB - É daquelas coisas horrorosas, que às vezes vão à minha loja e dizem-me assim “ai na Zara ou na Mango…” Por amor de deus! Não podem comparar preços!… Não há hipótese sequer! E depois têm outra vantagem: estão a comprar um vestido que no máximo há cinco iguais no país inteiro! Quer dizer, não me vão comparar com a Zara, pois não? 

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Desfile no Palácio das Artes, colecção Primavera/Verão 2011

HB – Alguma mensagem que queira deixar?…

EB - Comprem muita marca nacional, dos estilistas… porque eu acho que todos nós, cada um à sua maneira, estamos a ficar melhores! Eu acho que estamos a ganhar confiança, o nosso trabalho começa a ter outra qualidade! Falo em quase todos os criadores mais conhecidos. Eu acho que a qualidade, mesmo no design, está cada vez melhor. 

HB - … e a aposta nos novos criadores também é cada vez maior…

Sim, isso é muito importante: novas ideias que saem dos novos criadores! São muito bons! Muitos dos que estão a surgir agora são muito bons mesmo! E acho que devia haver alguma instituição, não sei, que ajudasse as pessoas criativas a desenvolverem os trabalhos, e a conseguirem alguma coisa neste País… 

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Desfile no Palácio das Artes, colecção Primavera/Verão 2011

Agradeço à Elsa Barreto a disponibilidade e carinho com que me recebeu, apesar do atribulado dia, solicitações por parte dos fotógrafos, amigos e família! Sempre com um sorriso!

4 comentários:

Unknown disse...

Ameiii o post!!!

Excelente! belo trabalho o da Elsa :D*



xoxo

DB disse...

Parabéns pela Entrevista!!

Anónimo disse...

É... realmente temos que apostar mais nos estilistas portugueses, o que é nacional é bom!!!

Helena, continua a apostar tb no teu trabalho, pq grão a grão, enche a galinha o papo!
Parabéns, está fantástico!!!
(SC)

Betty Gaeta disse...

Oi Helena,
os vestidos são um sonho e as cores são maravilhosas.
Bjkas e um ótimo final de semana para vc.

http://gostodistonew.blogspot.com/

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